sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Roteiro Herança Africana

Conhecer uma cidade é mergulhar nas suas origens e nada melhor do que fazer isto a pé. Neste roteiro vamos conhecer a história da escravidão no Brasil e sua herança africana. Seria a feijoada um legado da cultura africana? 

O tour promovido pela Del Bianco Viagens e guiado por Marcelo Nogueira inicia na Praça XV, primeiro porto de desembarque e comércio de cativos africanos e continua pela antiga Alfândega. igrejas Nossa Senhora do Rosário e Santa Rita, Largo da Prainha, Pedra do Sal e Valongo.


 

 


Durante o tour podemos reconhecer os passos da ocupação da região portuária entre os séculos 18 e 19. Por ordem do Marquês de Lavradio o mercado escravista foi redirecionado em 1774 para a área do Valongo que teve o cais concluído após a chegada da família Real em 1808.

No período de 1811 a 1850 o Cais do Valongo recebeu cerca de um milhão de africanos escravizados, o que o tornou o maior porto receptor de escravos do mundo. Aterrado em 1904 pelo prefeito Pereira Passos o Cais foi revelado em 2011 durante as obras do Porto Maravilha.

Entre 1850 e 1920, a área em torno do antigo cais tornou-se um espaço ocupado por negros escravizados ou libertos de diversas nações - área que Heitor dos Prazeres chamou de Pequena África. 

A região concentrada no entorno da Pedra do Sal e Largo da Prainha antes ocupada por estivadores pela proximidade do porto, foi renovada culturalmente na virada do século 19 com a chegada de migrantes negros, vindos especialmente da Bahia e de antigas áreas cafeeiras do Vale do Paraíba além de imigrantes portugueses, italianos e judeus, passando a ser o centro de criação da cultura negra carioca e da organização de novas formas de mobilização política. Em torno de sindicatos, capoeiras, casas de santo, gestaram-se greves, revoltas urbanas e novos gêneros musicais. 

Naquele contexto, o samba emergiu como um gênero específico e ganhou visibilidade em todo o país. Foram fundadas associações negras, sociais e dançantes, com seus cordões e ranchos, que ligaram a Pequena África ao que de mais moderno estava sendo produzido em termos musicais e artísticos no período.



Tia Ciata foi uma cozinheira e mãe de santo vinda da Bahia que reconhecida como símbolo da resistência negra no Brasil pós-abolição, era uma das principais incentivadoras do samba ao abrir as portas de sua casa e terreiro para reuniões de sambistas pioneiros quando a prática ainda era proibida por lei. Sua casa era frequentada por músicos como Donga, João da Baiana, Sinhõ, Pixinguinha e Heitor dos Prazeres. 

Certa vez a mãe de santo foi chamada ao Palácio do Catete para tratar de uma ferida do presidente Venceslau Brás que resistia a todos os tratamentos indicados pelos médicos. Após a cura o presidente expressou sua gratidão transferindo seu marido João Batista da Silva da Imprensa Nacional para a chefia de gabinete do chefe de Polícia. Assim, durante o mandato de Venceslau Brás (1914-18), as festas na casa de tia Ciata eram autorizadas, contando com o envio de dois soldados que iam fazer a segurança.

A historiografia da música popular no Brasil consagra a gravação da canção “Pelo Telefone” como um marco da história cultural brasileira.

A canção foi composta em 1916, no quintal da casa da Tia Ciata, na Praça Onze. A melodia, originalmente, intitulava-se Roceiro e foi uma criação coletiva, com participação de João da Baiana, Pixinguinha, Caninha, Hilário Jovino Ferreira e Sinhô, entre outros. Sobre a paternidade da música, Donga a registrou antes, justificando a ação com a máxima atribuída a Sinhô: "música é como passarinho, de quem pegar primeiro". 

A letra original da canção, que era “O chefe da folia/ Pelo telefone / Mandou me avisar / Que com alegria / Não se questione / Para se brincar”, foi alterada para a versão mais conhecida hoje em dia, "O Chefe da Polícia / Pelo telefone/ Manda me avisar/ Que na Carioca / Tem uma roleta/ Para se jogar".

A região portuária ainda foi palco de manifestações como a Revolta da Vacina com a participação do capoeirista e estivador Prata Preta liderando os manifestantes nas barricadas do bairro da Saúde. 

A Revolta da Vacina foi um motim popular ocorrido entre 10 e 16 de novembro de 1904 na cidade do Rio de Janeiro, então capital do Brasil. Seu pretexto imediato foi uma lei que determinava a obrigatoriedade da vacinação contra a varíola, mas também é associada a causas mais profundas, como as reformas urbanas que estavam sendo realizadas pelo prefeito Pereira Passos e as campanhas de saneamento lideradas pelo médico Oswaldo Cruz.

A derrubada de cerca de 640 prédios rasgara, através da parte mais habitada da cidade, um corredor que ia da Prainha ao Passeio Público. A demolição dos velhos casarões, àquela altura já quase todos transformados em pensões e cortiços, provocou uma crise de habitação que elevou os aluguéis e pressionou as classes populares para os subúrbios e para cima dos morros que circundam a cidade.

Finalmente, seria a feijoada um legado da cultura africana?



 

Depois do tour fomos até o Gracioso na Pedra do Sal para discutir o tema. O bar reinventado em 1960 é conhecido pela participação no festival Comida di Buteco e já sobreviveu a um grande incêndio que trouxe o ambiente atual da fundação. A feijoada é servida às 5as, 6as e sábados em porção para 2 que serve bem 3 comensais. O feijão é de um esmero no tempero como poucos e o torresminho que acompanha é indispensável. Uma bela carta de cachaças e cervejas artesanais acompanham o serviço atencioso dos garçons Neto e Cris.

A Feijoada foi introduzida no Brasil pelos portugueses. O hábito de misturar carnes de porco, vitela ou carneiro com linguiças, paio, toucinho, lombo, legumes e miúdos faz parte da história gastronômica dos povos ibéricos. Recibos de compras em açougues do Brasil Colônia apontam na lista os itens comuns à preparação da feijoada, desfazendo a lenda de que seria um prato oferecido aos escravos com sobras, que ademais não trouxeram da cultura africana a tradição de misturar elementos em seus cozidos. 

A evolução do prato no país foi promovida pelos bandeirantes e criadores de gado, trazendo em sua bagagem a farinha, a carne seca e o feijão, que o plantavam no caminho para garantir o alimento no retorno. As receitas da feijoada apresentam hoje variações regionais como o uso do feijão mulatinho no Nordeste, sendo que a influência carioca do feijão preto referendou a mais tradicional receita que conhecemos.

Conclusão: a feijoada é de todas as culturas e de todos nós! Invente vc também uma receita e chame os amigos para celebrar!

Serviço:
Del Bianco Viagens
https://www.facebook.com/viagensbyDB/
https://www.instagram.com/viagens_by_delbianco/

Gracioso
Rua Sacadura Cabral, 97 - Gamboa
Tel 21 22635028
https://www.instagram.com/gracioso_bar/

R$ 89, a feijoada para 2 (serve 3)



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