sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Consciência Negra e Feijoada

No Dia da Consciência Negra do ano passado visitamos a região portuária do Rio de Janeiro conhecida como Pequena África para conhecer a história da ocupação da cidade no período colonial. Durante o roteiro paramos no Bar Delas para degustar a feijoada com roda de samba.

"O Brazil não conhece o Brasil" é o verso que abre a música Querelas do Brasil de Aldir Blanc eternizada por Elis Regina. Somos esta mistura de raças e culturas que pouco valorizamos.

Muito oportunamente no Carnaval de 2019 a Estação Primeira de Mangueira levantou a bandeira verde e rosa para todo o país: 
"Brasil, meu nego, deixa eu te contar a história que a história não conta
A Mangueira chegou com versos que o livro apagou
Desde 1500 tem mais invasão do que descobrimento".

Em 2020 foi a vez do Salgueiro levar para avenida o enredo O Rei Negro do Picadeiro homenageando Benjamin de Oliveira, o primeiro palhaço negro brasileiro:
"A luta me fez majestade
Na pele, o tom da coragem
Pro que está por vir
Sorrir é resistir". 

    

Vinicius de Moraes, "o branco mais preto do Brasil, na linha direta de Xangô" nos brindou e reconheceu a herança da cultura negra nos versos do Samba da Benção em parceria com Baden Powell: "Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração
Saravá!"

Crescemos desconhecendo e temendo as religiões de origem africana. No entanto estes elementos estão presentes no nosso dia a dia de país sincretizado na Fé.

É o sincretismo religioso na voz de Zeca Pagodinho que nos permite ir na igreja festejar o santo protetor quanto e no terreiro pra bater o tambor:
"Eu sou descendente Zulú
Sou um soldado de Ogum
devoto dessa imensa legião de Jorge
Eu sincretizado na fé
Sou carregado de axé
E protegido por um cavaleiro nobre"

São Jorge ou Ogum, o guerreiro é o mesmo. Em Salvador, a igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos no Pelourinho celebra às 3as feiras uma missa católica sincretizada com cantos e atabaques do Candomblé preservando a cultura da irmandade de negros fundada em 1685. Impossível assistir sem se emocionar.

Neste roteiro aprendemos no Instituto dos Pretos Novos que o Cais do Valongo abrigou no século 19 o maior porto receptor de escravos do mundo e "entrou, então, para a história da cidade como um local de horrores. 

Os escravos que sobreviviam à viagem transatlântica recebiam o passaporte para a senzala. Os que não sobreviviam tinham seus corpos submetidos a enterro degradante. Para todos, era o cenário tétrico do comércio de carne humana.” relata José Murilo de Carvalho.

“Pretos novos” ou “boçais” era a denominação dada aos cativos recém-chegados da África, no Brasil, assim que desembarcavam no porto. Logo que eram vendidos e aprendiam o português passavam a ser chamados de “ladinos”. 

Em 1996 durante as escavações do Porto Maravilha foram descobertas ossadas do antigo Cemitério dos Pretos Novos. O Instituto dos Pretos Novos promove o circuito Herança Africana com visita aos sítios históricos e culturais da região portuária.

Visitamos o Museu da História da Cultura Afro Brasileira com elementos de arte e religião e que recebia intensa programação cultural nesta data.



O roteiro inteiro foi na Rua Pedro Ernesto e terminou na "lanchonete ocupação" Bar Delas que servia feijoada com roda de samba comandada pelas super simpáticas Kriss e Thelma. É um espaço de convivência, debates, arte e empoderamento. O acesso é fácil com parada do VLT na vizinha Praça da Harmonia.





Serviço:
Bar Delas
Rua Pedro Ernesto, 5 - Gamboa
Tel (21) 98177-5428
https://www.instagram.com/bar_dellas/

Instituto dos Pretos Novos
Rua Pedro Ernesto, 32
Tel (21) 25167089
http://pretosnovos.com.br/
http://pretosnovos.com.br/educativo/circuito-de-heranca-africana/

Museu da História da Cultura Afro Brasileira MUHCAB (Centro Cultural José Bonifácio) 
Rua Pedro Ernesto, 80
Tel (21) 2233-7754

Um pouco mais de História...

O mercado da escravidão no Rio de Janeiro

A história do Brasil precisa ser recontada por uma ótica não colonialista, a fim de contribuir para revelar o conhecimento e promover novas formas de reflexão sobre as origens do povo brasileiro. Estima-se de forma conservadora, que a partir de 1580, começaram a chegar regularmente os primeiros grupos de africanos escravizados no Brasil. Mas somente mais tarde, em 1640, o negócio negreiro se expande com mais força, aumentando o número de cativos com o incremento do cultivo da cana-de-açúcar e a criação de novos engenhos nas capitanias do nordeste brasileiro e na capitania de São Vicente, incluindo o Rio de Janeiro, sobretudo nas áreas que iriam se tornar na Zona Norte e Zona Oeste da cidade. No início, o mercado de africanos escravizados se estabeleceu na Rua Direita (onde atualmente é a Rua Primeiro de Março), permanecendo ali até 1774, quando o vice-rei Marquês do Lavradio deu ordem para transferir definitivamente as operações de desembarque, manejo, venda e enterro de cativos para a região do Valongo. É dele a autoria da frase: Os escravos que não forem vendidos não sairão do Valongo nem mortos. O processo a que estes homens e mulheres (em sua maioria, muito jovens) foram submetidos é de uma violência descomunal. Pelas ruas do bairro do Valongo, estima-se que tenham passado mais de um milhão de africanos capturados para servirem à escravidão.

Complexo do Valongo e Valonguinho

O Brasil foi o maior mercado escravista do mundo durante o século XIX, e foi também o último país a extinguir a escravidão africana nas Américas. Este mercado de seres humanos atingiu o seu ápice após a chegada da família real portuguesa, em 1808, fugida das tropas de Napoleão Bonaparte (que invadira Portugal por não respeitar o Bloqueio Continental imposto à Inglaterra). É nesse período que o Valongo se estabeleceu como a área comercial mais rentável na cidade do Rio de Janeiro, com o mercado de africanos escravizados. Cerca de 40% dos africanos cativos chegavam muito debilitados e acometidos de diversas enfermidades, desnutridos ou feridos, e por isso eram encaminhados para o Lazareto de Escravos, que funcionou nas ilhas de Bom Jesus, Enchadas e depois, no litoral da praia do Propósito, Saco da Gamboa. Era na enseada do Valonguinho, na confluência com a Rua do Valongo (Rua Sacadura Cabral com a Rua Camerino) era o ponto de concentração das casas de venda dos cativos. Há relatos de que estendeu-se também para a rua da Praia do Valongo (atual Rua Sacadura Cabral) e Prainha (Largo de São Francisco). O Valonguinho compreendia a área da pequena enseada entre a Pedra do Sal e a Pedreira do Valongo. Pesquisas apontam que a cultura afro-carioca o seu berço nesta região. Nas proximidades do Valonguinho, trabalhadores do porto, descendentes de escravos, imigrantes europeus e boêmios cariocas, formataram aquilo que conhecemos como “alma carioca”. Foi ali que Donga, Pixinguinha e outros bambas ajudaram a criar o Chorinho e o Samba de roda carioca. A região portuária era tão rica culturalmente que, na década de 50 do século XX, o compositor e artista plástico, Heitor dos Prazeres, batizou a região como “Pequena África”.

Circuito Herança Africana
Largo de São Francisco da Prainha
Pedra do Sal
Morro da Conceição
Jardim Suspenso do Valongo
Centro Cultural Pequena África
Casa da Tia Ciata
Largo do Depósito
Armazém Docas Dom Pedro II
Cais do Valongo (Patrimônio Cultural da Humanidade – Unesco).
Casa de Machado de Assis
Revolta da Vacina
Prata Preta
Centro Cultural José Bonifácio
Cemitério dos Pretos Novos
Lazareto

MÚSICAS CITADAS NO TEXTO

Querelas do Brasil (Aldir Blanc)

O Brazil não conhece o Brasil
O Brasil nunca foi ao Brazil
Tapi, jabuti, liana, alamandra, alialaúde
Piau, ururau, aquiataúde
Piau, carioca, moreca, meganha
Jobim akarare e jobim açu
Oh, oh, oh
Pererê, camará, gororô, olererê
Piriri, ratatá, karatê, olará
O Brazil não merece o Brasil
O Brazil tá matando o Brasil
Gereba, saci, caandra, desmunhas, ariranha, aranha
Sertões, guimarães, bachianas, águas
E marionaíma, ariraribóia
Na aura das mãos do jobim açu
Oh, oh, oh
Gererê, sarará, cururu, olerê
Ratatá, bafafá, sururu, olará
Do Brasil…

Histórias Para Ninar Gente Grande
GRES Estação Primeira de Mangueira, Samba Enredo 2019 
Tomaz Miranda / Ronie Oliveira / Márcio Bola / Mamá / Deivid Domênico / Danilo Firmino

Mangueira, tira a poeira dos porões
Ô, abre alas pros teus heróis de barracões
Dos Brasis que se faz um país de Lecis, jamelões
São verde e rosa, as multidões

Mangueira, tira a poeira dos porões
Ô, abre alas pros teus heróis de barracões
Dos Brasis que se faz um país de Lecis, jamelões
São verde e rosa, as multidões

Brasil, meu nego
Deixa eu te contar
A história que a história não conta
O avesso do mesmo lugar
Na luta é que a gente se encontra

Brasil, meu dengo
A Mangueira chegou
Com versos que o livro apagou
Desde 1500 tem mais invasão do que descobrimento
Tem sangue retinto pisado
Atrás do herói emoldurado
Mulheres, tamoios, mulatos
Eu quero um país que não está no retrato

Brasil, o teu nome é Dandara
E a tua cara é de cariri
Não veio do céu
Nem das mãos de Isabel
A liberdade é um dragão no mar de Aracati

Salve os caboclos de julho
Quem foi de aço nos anos de chumbo
Brasil, chegou a vez
De ouvir as Marias, Mahins, Marielles, malês

O Rei Negro do Picadeiro
GRES Salgueiro, Samba Enredo 2020
Marcelo Motta, Fred Camacho, Guinga do Salgueiro, Getúlio Coelho, Ricardo Neves e Francisco Aquino


Olha nós aí de novo
Pra sambar no picadeiro
Arma o circo, chama o povo, Salgueiro
Aqui o negro não sai de cartaz
Se entregar, jamais

Na corda bamba da vida me criei
Mas qual o negro não sonhou com liberdade?
Tantas vezes perdido, me encontrei
Do meu trapézio saltei num voo pra felicidade
Quando num breque, mambembe moleque

Beijo o picadeiro da ilusão
Um novo norte, lançado à sorte
Na companhia do luar
Feito sambista
Alma de artista que vai onde o povo está

E vou estar com o peito repleto de amor
Eis a lição desse nobre palhaço
Quando cair, no talento, saber levantar
Fazer sorrir quando a tinta insiste em manchar

O rosto retinto exposto
Reflete no espelho
Na cara da gente um nariz vermelho
Num circo sem lona, sem rumo, sem par
Mas se todo show tem que continuar (bravo!)

Bravo
Há esperança entre sinais e trampolins
E a certeza que milhões de Benjamins
Estão no palco sob as luzes da ribalta
Salta, menino

A luta me fez majestade
Na pele, o tom da coragem
Pro que está por vir
Sorrir é resistir 

Samba da Benção
Baden Powell / Marcelo Peixoto / Vinicius De Moraes

É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração
Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
É preciso um bocado de tristeza
Senão, não se faz um samba não
Senão é como amar uma mulher só linda
E daí?
Uma mulher tem que ter qualquer coisa além de beleza
Qualquer coisa de triste
Qualquer coisa que chora
Qualquer coisa que sente saudade
Um molejo de amor machucado
Uma beleza que vem da tristeza de se saber mulher
Feita apenas para amar
Para sofrer pelo seu amor e pra ser só perdão
Fazer samba não é contar piada
E quem faz samba assim não é de nada
O bom samba é uma forma de oração
Porque o samba é a tristeza que balança
E a tristeza tem sempre uma esperança
A tristeza tem sempre uma esperança
De um dia não ser mais triste não
Feito essa gente que anda por aí brincando com a vida
Cuidado, companheiro
A vida é pra valer
E não se engane não, tem uma só
Duas mesmo que é bom ninguém vai me dizer que tem sem provar muito bem provado
Com certidão passada em cartório do céu e assinado embaixo
Deus, e com firma reconhecida
A vida não é brincadeira, amigo
A vida é arte do encontro embora haja tanto desencontro pela vida
Há sempre uma mulher à sua espera
Com os olhos cheios de carinho
E as mãos cheias de perdão
Ponha um pouco de amor na sua vida
Como no seu samba
Ponha um pouco de amor numa cadência
E vai ver que ninguém no mundo vence
A beleza que tem um samba, não
Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração
Eu, por exemplo, o capitão do mato Vinícius De Moraes
Poeta e diplomata
O branco mais preto do Brasil
Na linha direta de Xangô, saravá!
A bênção, Senhora
A maior ialorixá da Bahia
Terra de Caymmi e João Gilberto
A bênção, Pixinguinha, tu que choraste na flauta, todas as minhas mágoas de amor
A bênção, sinhô, a benção, Cartola
A bênção, Ismael Silva
Sua bênção, Heitor dos Prazeres
A bênção, Nelson Cavaquinho
A bênção, Geraldo Pereira
A bênção, meu bom Cyro Monteiro você, sobrinho de Nonô
A bênção, Noel, sua bênção, Ary
A bênção, todos os grandes sambistas do Brasil
Branco, preto, mulato
Lindo como a pele macia de Oxum
A bênção, maestro Antônio Carlos Jobim
Parceiro e amigo querido, que já viajaste tantas canções comigo
E ainda há tantas por viajar
A bênção, Carlinhos Lyra, parceiro cem por cento
Você que une a ação ao sentimento e ao pensamento
A bênção, a bênção, Baden Powell
Amigo novo, parceiro novo, que fizeste este samba comigo
A bênção, amigo
A bênção, maestro Moacir Santos, que não és um só, és tantos como
Tantos como o meu Brasil de todos os santos
Inclusive meu São Sebastião
Saravá, a bênção, que eu vou partir
Eu vou ter que dizer adeus
Ponha um pouco de amor numa cadência
E vai ver que ninguém no mundo vence
A beleza que tem um samba, não
Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração
Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração
Ele é negro demais no coração
Ele é negro demais no coração
Ele é negro demais no coração

Ogum
Claudemir Da Silva / Marquinho Pqd

Eu sou descendente Zulú
Sou um soldado de Ogum
devoto dessa imensa legião de Jorge
Eu sincretizado na fé
Sou carregado de axé
E protegido por um cavaleiro nobre
Sim vou nà igreja festejar meu protetor
E agradecer por eu ser mais um vencedor
Nas lutas nas batalhas
Sim vou no terreiro pra bater o meu tambor
Bato cabeça firmo ponto sim senhor
Eu canto pra Ogum
Ogum
Um guerreiro valente que cuida da gente que sofre demais
Ogum
Ele vem de Aruanda ele vence demanda de gente que faz
Ogum
Cavaleiro do céu escudeiro fiel mensageiro da paz
Ogum
Ele nunca balança ele pega na lança ele mata o dragão
Ogum
É quem da confiança pra uma criança virar um leão
Ogum
É um mar de esperança que traz a bonança pro meu coração
Ogum
"Deus adiante paz e guia
Encomendo-me a Deus e a virgem Maria minha mãe ..
Os doze apóstolos meus irmãos
Andarei nesse dia nessa noite
Com meu corpo cercado vigiado e protegido
Pelas as armas de são Jorge
São Jorge sentou praça na cavalaria
Eu estou feliz porque eu também sou da sua companhia"
Eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge
Para que meus inimigos tenham pés e não me alcancem
Tenham mãos e não me peguem e não me toquem
Tenham olhos e não me enxerguem
E nem em pensamento eles possam ter para me fazerem mal
Armas de fogo o meu corpo não alcançarão
Facas e lanças se quebrem se o meu corpo tocar
Cordas e correntes se arrebentem se o meu corpo amarrar
Pois eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge
Jorge é da Capadócia.

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Roteiro Herança Africana

Conhecer uma cidade é mergulhar nas suas origens e nada melhor do que fazer isto a pé. Neste roteiro vamos conhecer a história da escravidão no Brasil e sua herança africana. Seria a feijoada um legado da cultura africana? 

O tour promovido pela Del Bianco Viagens e guiado por Marcelo Nogueira inicia na Praça XV, primeiro porto de desembarque e comércio de cativos africanos e continua pela antiga Alfândega. igrejas Nossa Senhora do Rosário e Santa Rita, Largo da Prainha, Pedra do Sal e Valongo.


 

 


Durante o tour podemos reconhecer os passos da ocupação da região portuária entre os séculos 18 e 19. Por ordem do Marquês de Lavradio o mercado escravista foi redirecionado em 1774 para a área do Valongo que teve o cais concluído após a chegada da família Real em 1808.

No período de 1811 a 1850 o Cais do Valongo recebeu cerca de um milhão de africanos escravizados, o que o tornou o maior porto receptor de escravos do mundo. Aterrado em 1904 pelo prefeito Pereira Passos o Cais foi revelado em 2011 durante as obras do Porto Maravilha.

Entre 1850 e 1920, a área em torno do antigo cais tornou-se um espaço ocupado por negros escravizados ou libertos de diversas nações - área que Heitor dos Prazeres chamou de Pequena África. 

A região concentrada no entorno da Pedra do Sal e Largo da Prainha antes ocupada por estivadores pela proximidade do porto, foi renovada culturalmente na virada do século 19 com a chegada de migrantes negros, vindos especialmente da Bahia e de antigas áreas cafeeiras do Vale do Paraíba além de imigrantes portugueses, italianos e judeus, passando a ser o centro de criação da cultura negra carioca e da organização de novas formas de mobilização política. Em torno de sindicatos, capoeiras, casas de santo, gestaram-se greves, revoltas urbanas e novos gêneros musicais. 

Naquele contexto, o samba emergiu como um gênero específico e ganhou visibilidade em todo o país. Foram fundadas associações negras, sociais e dançantes, com seus cordões e ranchos, que ligaram a Pequena África ao que de mais moderno estava sendo produzido em termos musicais e artísticos no período.



Tia Ciata foi uma cozinheira e mãe de santo vinda da Bahia que reconhecida como símbolo da resistência negra no Brasil pós-abolição, era uma das principais incentivadoras do samba ao abrir as portas de sua casa e terreiro para reuniões de sambistas pioneiros quando a prática ainda era proibida por lei. Sua casa era frequentada por músicos como Donga, João da Baiana, Sinhõ, Pixinguinha e Heitor dos Prazeres. 

Certa vez a mãe de santo foi chamada ao Palácio do Catete para tratar de uma ferida do presidente Venceslau Brás que resistia a todos os tratamentos indicados pelos médicos. Após a cura o presidente expressou sua gratidão transferindo seu marido João Batista da Silva da Imprensa Nacional para a chefia de gabinete do chefe de Polícia. Assim, durante o mandato de Venceslau Brás (1914-18), as festas na casa de tia Ciata eram autorizadas, contando com o envio de dois soldados que iam fazer a segurança.

A historiografia da música popular no Brasil consagra a gravação da canção “Pelo Telefone” como um marco da história cultural brasileira.

A canção foi composta em 1916, no quintal da casa da Tia Ciata, na Praça Onze. A melodia, originalmente, intitulava-se Roceiro e foi uma criação coletiva, com participação de João da Baiana, Pixinguinha, Caninha, Hilário Jovino Ferreira e Sinhô, entre outros. Sobre a paternidade da música, Donga a registrou antes, justificando a ação com a máxima atribuída a Sinhô: "música é como passarinho, de quem pegar primeiro". 

A letra original da canção, que era “O chefe da folia/ Pelo telefone / Mandou me avisar / Que com alegria / Não se questione / Para se brincar”, foi alterada para a versão mais conhecida hoje em dia, "O Chefe da Polícia / Pelo telefone/ Manda me avisar/ Que na Carioca / Tem uma roleta/ Para se jogar".

A região portuária ainda foi palco de manifestações como a Revolta da Vacina com a participação do capoeirista e estivador Prata Preta liderando os manifestantes nas barricadas do bairro da Saúde. 

A Revolta da Vacina foi um motim popular ocorrido entre 10 e 16 de novembro de 1904 na cidade do Rio de Janeiro, então capital do Brasil. Seu pretexto imediato foi uma lei que determinava a obrigatoriedade da vacinação contra a varíola, mas também é associada a causas mais profundas, como as reformas urbanas que estavam sendo realizadas pelo prefeito Pereira Passos e as campanhas de saneamento lideradas pelo médico Oswaldo Cruz.

A derrubada de cerca de 640 prédios rasgara, através da parte mais habitada da cidade, um corredor que ia da Prainha ao Passeio Público. A demolição dos velhos casarões, àquela altura já quase todos transformados em pensões e cortiços, provocou uma crise de habitação que elevou os aluguéis e pressionou as classes populares para os subúrbios e para cima dos morros que circundam a cidade.

Finalmente, seria a feijoada um legado da cultura africana?



 

Depois do tour fomos até o Gracioso na Pedra do Sal para discutir o tema. O bar reinventado em 1960 é conhecido pela participação no festival Comida di Buteco e já sobreviveu a um grande incêndio que trouxe o ambiente atual da fundação. A feijoada é servida às 5as, 6as e sábados em porção para 2 que serve bem 3 comensais. O feijão é de um esmero no tempero como poucos e o torresminho que acompanha é indispensável. Uma bela carta de cachaças e cervejas artesanais acompanham o serviço atencioso dos garçons Neto e Cris.

A Feijoada foi introduzida no Brasil pelos portugueses. O hábito de misturar carnes de porco, vitela ou carneiro com linguiças, paio, toucinho, lombo, legumes e miúdos faz parte da história gastronômica dos povos ibéricos. Recibos de compras em açougues do Brasil Colônia apontam na lista os itens comuns à preparação da feijoada, desfazendo a lenda de que seria um prato oferecido aos escravos com sobras, que ademais não trouxeram da cultura africana a tradição de misturar elementos em seus cozidos. 

A evolução do prato no país foi promovida pelos bandeirantes e criadores de gado, trazendo em sua bagagem a farinha, a carne seca e o feijão, que o plantavam no caminho para garantir o alimento no retorno. As receitas da feijoada apresentam hoje variações regionais como o uso do feijão mulatinho no Nordeste, sendo que a influência carioca do feijão preto referendou a mais tradicional receita que conhecemos.

Conclusão: a feijoada é de todas as culturas e de todos nós! Invente vc também uma receita e chame os amigos para celebrar!

Serviço:
Del Bianco Viagens
https://www.facebook.com/viagensbyDB/
https://www.instagram.com/viagens_by_delbianco/

Gracioso
Rua Sacadura Cabral, 97 - Gamboa
Tel 21 22635028
https://www.instagram.com/gracioso_bar/

R$ 89, a feijoada para 2 (serve 3)