"A gente não quer só comida
A gente quer comidaDiversão e arte" (Titãs)
Fui visitar minha amiga Rosane que decidiu se aposentar em Paraty, convenientemente afastada da cidade, numa área quase rural na estrada de acesso ao Parque Nacional no caminho para Cunha. Do seu quintal, onde planta especiarias e ervas é possível avistar a serra do Mar.
Nosso programa começou com visitas aos engenhos Pedra Branca, ganhador do prêmio 2011 com a melhor cachaça envelhecida e Engenho D'Ouro, ambos de fácil acesso e com direito a repetidas provas de cada tipo de cachaça, banho de poço e cachoeira.
No caminho para Trindade, uma parada na Semente, lojinha do Teco, para as meninas se deliciarem com suas roupas bordadas a poesia. Idéia genial que merece destaque !
Apesar de ser uma praia bastante aclamada e objeto de desejo de muitos, minha experiência com Trindade no passado havia sido desastrosa. Fui com amigos para mergulhar no famoso mar límpido e de farta fauna marinha porém ao chegarmos o tempo que já se anunciava chuvoso desabou. Montamos a barraca debaixo da chuva e após poucos mergulhos decidimos partir. A ladeira era de barro naquele tempo e a saída foi quase vexaminosa. Mas isto foi no passado.
No nosso passeio atual o sol resolveu se esconder atrás de pesadas nuvens, não choveu e pude notar a beleza de suas águas. Quem sabe numa próxima vez faremos as pazes ?
A fome já apertava no meio da tarde quando fomos conhecer o Quilombo Campinho da Independência, comunidade negra remanescente de quilombo a 20 km do centro de Paraty e considerada a maior organização comunitária do Estado do Rio de Janeiro.
No cardápio do Restaurante do Quilombo a feijoada na sua versão original, leia-se gorda, sem tirar nem por, e decidimos então pela combinação mais leve do feijão mulatinho da roça com carne seca, abóbora e arroz brilhando. Tudo muito gostoso.
Além do restaurante, a renda da comunidade vem da venda de cana, banana, farinha de mandioca e artesanato feito de taquara, taboa e cipó. Na comunidade há uma casa de artesanato aberta diariamente, onde pode-se comprar produtos e conhecer um pouco mais do quilombo através das Griôs, contadoras de histórias e guardiãs da memória quilombola.
O piso superior do restaurante abriga as rodas de jongo e samba compondo o roteiro etno-ecológico em torno da produção econômica solidária, onde a renda gerada é distribuída para a comunidade. Um bom motivo para a sua visita !
Serviço:
Restaurante do Quilombo
Km 584 da Rodovia BR 101 (Rio-Santos) sentido Paraty-Ubatuba
Tel 24 3371-4823 /66 AMOC
Sítio Pedra Branca
Estrada da Pedra Branca, km 1, Ponte Branca
Tel 24 7835-4065
Visitação das 9 às 17h
www.cachacapedrabranca.com
Engenho D'Ouro
Estrada Paraty-Cunha, km 8, Penha
Tel 24 9832-7392 / 9905-8268 / 7812-1543
www.engenhodouro.com.br
Semente Roupas Artesanais
Depoimento do Vagner, presidente da Amoc
Sobre o Quilombo
A história dessa comunidade começa quando um fazendeiro resolveu doar suas terras três mulheres negras: Vovó Antonica, Tia Marcelina e Tia Luiza, que com base no regime matriarcal, conduziram o processo de desenvolvimento do local.
A doação ocorreu porque a terra estava ficando imprópria para plantação, devido ao manejo incorreto que se fazia com a terra como: cultivar só tipo de plantação e limpar o terreno com queimadas. Essas três mulheres negras, que a partir de então estavam em posse das terras do Sertão da Independência, povoaram aquela comunidade quilombola que hoje se chama Quilombo Campinho da Independência.
Mas, porque hoje em dia a localidade chama-se Campinho e não mais Sertão da Independência? Bem, Os adultos gostavam de se reunirem aos domingos para a prática esportiva do futebol, prática esta bastante enraizada na cultura brasileira. Contudo, as crianças não podiam utilizar esse campo para os jogos, somente os adultos. Com isso, as crianças fizeram um campinho para elas. Com o passar do tempo, os adultos perceberam que o campinho das crianças estava melhor do que o campo que eles utilizavam para a prática esportiva. Então, começou-se a referir-se ao local como Campinho.
A antiga comunidade Sertão da Independência tinha suas posses desde onde hoje está localizada a comunidade Campinho da Independência até o limite do estado do Rio de Janeiro com São Paulo. Hoje em dia, a comunidade tem 287 hectares de terra e cerca de 150 famílias divididas em 13 núcleos familiares, que são divididos não com muros nem faixas, mas sim pelas suas faixas de terra.
Desde 21 de março de 1999, ano da titulação da comunidade, o Campinho da Independência tornou-se oficialmente Quilombo Campinho da Independência.
Anualmente no dia 20 de novembro, “Dia do Zumbi”, a comunidade comemora o “Dia da Consciência Negra”, com o resgate de suas danças tradicionais, especialmente o jongo e a capoeira, que vêm se destacando entre os jovens como afirmar suas raízes. A iniciativa tende a valorizar a cultura local, criando nos jovens o interesse por sua preservação. O projeto é uma iniciativa da Associação de Moradores do Campinho da Independência (Amoc), em parceria com a Prefeitura Municipal, por meio da Secretaria de Turismo e Cultura.dia 20.
Fonte:
www.itaeparaty.org.br
www.fazendomedia.com/consciencia-negra-na-comunidade-quilombola-campinho-da-independencia-em-paraty/
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