domingo, 10 de novembro de 2013

Torresmo de barriga

Quem me conhece sabe do meu fraco por torresmo. Já até perdi um dente numa destas feijoadas da vida por conta de um infeliz exemplar. Brasileiro que sou não desisto, e aprendi a degustá-lo com moderação a fim de evitar nova idas desnecessárias ao dentista.

Preparado a partir da barriga do porco há muito ouvia comentários e artigos sobre o torresmo do Bar da Portuguesa. Fui então provar esta iguaria servida apenas aos domingos no pacato bairro de Ramos.

Uma enorme amendoeira providencia a sombra na calçada. O botequim impecavelmente limpo e ladrilhado é bem arejado mas o gostoso mesmo é sentar numa mesinha do lado de fora e observar os periquitos.




Dona Donzília, ou Alzira como costumam chamá-la, chegou à nossa terra em 1968 e logo depois abriu o bar que tinha como nome original Copão de Ouro. 

São muitas as delícias servidas generosamente no botequim. Entre um e vários outros torresmos, provamos também o Jiló recheado com Carne Assada, a Fritada de Bacalhau e a Punheta servidos pela Sueli. Felicidade total !

Na nossa opinião o cardápio poderia oferecer opções de meia-porções ou tapas pois saímos com a vontade termos provados mais sabores. Até quentinha levamos !



O bar recebeu em 1969 o encontro do vizinho Pixinguinha e do violonista Baden Powell, registrado pelo músico francês Pierre Barouh no documentário "Saravah" (leia abaixo) que desembarca no Rio de Janeiro disposto a registrar em película momentos de uma música que, embora conhecesse pouco, o fascinava intensamente.


Saravá !
www.youtube.com/watch?v=nPGcQM5nb8M

Serviço:
Bar da Portuguesa
Rua Custódio Nunes, 155 (esquina com Rua João Silva) - Ramos
Tel (21) 2260-8979

Terça a Quinta: 17h às 22h
Sexta: 17h às 23h
Sábado: 10h às 18h
Domingo: 10h às 16h

Sobre o encontro do Samba com a Bossa Nova
Saravah é resultado das sessões de filmagem com Pixinguinha e João da Baiana, então octagenários, os jovens Maria Bethânia - aos 21 anos - e Paulinho da Viola, tendo Baden Powell como elo de ligação entre gerações tão distantes e fundamentais da arte brasileira.

O francês Pierre Barouh, de 71 anos, orgulha-se de ter sido sempre um amador, no bom sentido. 'A gente se encontra com as pessoas e deixa levar', diz. Em Lisboa, em 1959, fez amizade com o sanfoneiro Sivuca, que o apresentou à música popular brasileira. 'O resultado foi que me apaixonei', conta. 

Anos depois, encontrou o cineasta Claude Lelouch e terminou compondo para ele alguns dos temas de Um Homem, Uma Mulher (1966), em parceria com Francis Lai. Com voz suave e cool, Barouh gravou para o filme a versão francesa de 'Samba da Bênção', com acompanhamento do compositor, o violonista Baden Powell (1937-2000). 

O filme de Lelouch divulgou a bossa nova na Europa, por causa do sucesso de uma das canções, 'Sabadabada'. E foi o acaso que trouxe Barouh ao Rio de Janeiro num fevereiro muito quente do ano de 1969. 

'Um amigo me convidou para viajar para o Rio. Vim para filmar 'música brasileira', confiando na amizade de Baden', conta. 'Mas só tinha três dias para produzir tudo.' Filmou o que pôde numa correria só, voltou a Paris e mandou revelar o filme. Intitulou o experimento de Saravah. 

Hoje vivendo em Tóquio, Barouh lançou Saravah em fita cassete há quatro anos no Japão. A versão em DVD saiu há dois. 'Como é o Ano do Brasil na França, aproveitei para lançar o DVD por lá. Foi há quatro meses', diz. 'Agora chegou a vez de os brasileiros descobrirem o trabalho.' 

De fato, assistir a Saravah é como abrir a arca de um tesouro sonoro nunca revelado. De repente, volta à vida Baden Powell, no auge da carreira e do domínio de sua arte, encarregado de levar o francês encantado pelos bares, clubes e quintais do Rio, ao mesmo tempo que acompanhava outros músicos com seu talento incrível. Ele e Barouh arranjaram um encontro entre a cantora Maria Bethânia e o sambista Paulinho da Viola numa mesa de bar em Itaipu, no litoral fluminense, então uma vila de pescadores. Bethânia, aos 21 anos, abriu-se diante da câmera amadora; cantou e contou tudo o que sabia, ao lado de um Paulinho convicto de manter a diferença em relação à moça. 'Temos formação e compromissos diferentes', diz. 'Sou compositor de escola de samba.' 

Bethânia aparece ainda em ensaios na boate Sucata, interpretando 'Baby' e 'Tropicália', canções de seu irmão Caetano, então exilado na Inglaterra. E é acompanhada - em improvável combinação - por Baden e pelo trombonista Raul de Souza. Outra cantora, Márcia, mostra os sambas afros de Baden num clima de total descontração. E há instantes preciosos, como o percussionista João da Bahiana (1887-1974) tocando prato numa tentativa de distinguir macumba de candomblé, e o maestro Pixinguinha (1897-1973) no fundo do quintal de sua casa suburbana, em Jacarepaguá, executando o clássico 'Lamento' ao sax tenor, acompanhado por Baden e João da Bahiana. 'Filmei ensaios. Eles são melhores que shows', ensina Barouh. 

Não se trata de material para cineastas, mas para fãs de MPB, avisa. Ele está eufórico com sua volta ao Brasil. 'Muita coisa mudou, compositores foram favelizados, mas a música brasileira continua fantástica', vibra. 'Isto é a vida!' 

Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,,EPT992465-1661,00.html

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