sábado, 27 de outubro de 2012

Feijoada Imperial



Oi, oi, oi ! Foi no climão do final da novela que parou o país que rumamos à zona norte para a Feijoada Imperial. 

Todo 3o sábado de cada mês a família imperiana se reune na recém reformada quadra do Império Serrano e que a cada edição presta homenagem a uma personalidade que contribuiu para formar os pilares da agremiação.




Em outubro o escolhido foi o imperiano Wilson das Neves, compositor, cantor e baterista dos mais requisitados do país e que orgulha-se de ter trabalhado com Roberto Carlos, Chico Buarque, Eumir Deodato, Elizeth Cardoso,Clara Nunes, Elza Soares, Elis Regina (com quem tocou mo Olimpia de Paris), Alcione e Beth Carvalho, além  de  ter gravado com artistas internacionais como Sarah Vaughan, Toots Thilemans e Michel Legrand.



O acesso à quadra é super fácil via trem a partir da estação Central com apenas 5 paradas até a estação Mercadão de Madureira em menos de 40 min de viagem. Já o acesso por carro pode ser feito via Linha Amarela sendo que faz todo sentido a música do mestre Arlindo Cruz, pois para chegar à Madureira é inevitável passar por bairros vizinhos.

"O meu lugar,
Tem seus mitos e Seres de Luz,
É bem perto de Osvaldo Cruz,
Cascadura, Vaz Lobo e Irajá."







Inacreditável como a Nina conseguia cruzar a cidade tão rapidamente da zona norte à zona sul naquela lambretinha...

Nem Carminha, nem Suelen. Sem Leleco ou Tufão. A forte presença é a do colorido do bairro, a animação dos passantes e a paixão dos imperianos que domina a quadra.

Como diz o samba campeão em 1964, é o Brasil em forma de Aquarela !









Além da homenagem ao mestre Wilson das Neves, tributo ao compositor Silas de Oliveira, show com
Alex Ribeiro, Arlindo Neto e a cantora Mariene de Castro, estavam previstas a coroação das Musas Imperiais e a primeira apresentação oficial do samba escolhido campeão para o desfile de 2013 com a presença da Rainha Quitéria Chagas encantando o público a frente da Sinfônica do Samba de Mestre Gilmar.




Chegamos cedo para não perder a feijoada da tia Néia que forma fila até o meio da quadra. Vale a pena esperar. Serviço organizado e limpo. Carnes muito bem selecionadas, até costelinha, a minha predileta estava lá. Só faltou a pimenta...

Deixamos a quadra no início da noite e foi uma pena não termos conhecido as musas e a Rainha, tampouco escutarmos o samba de 2013.








Tia Néia



Serviço:
Feijoada Imperial

Av. Ministro Edgard Romero, 114, Madureira

R$ 10, ingresso feminino
R$ 15, ingresso masculino
Sócios com mensalidade em dia não pagam
Tel (21) 2450-2711 para reserva de mesas e camarotes 

Um pouco de História...



O Grêmio Recreativo Escola de Samba Império Serrano é uma das mais tradicionais escolas de samba da cidade do Rio de Janeiro, que foi campeã do Grupo Especial por nove vezes (1948,1949,1950,1951,1955,1956,1960,1972,1982).

Um dos principais orgulhos de seus integrantes é a gestão democrática e aberta da escola, implantada desde a sua fundação. Sua história se confunde com a própria história da Serrinha, embora sua sede fique na Avenida Ministro Edgar Romero, ao lado da Estação Mercadão de Madureira, mas no mesmo bairro, Madureira.

Nasce a 23 de março de 1947 a partir de uma dissidência da antiga escola de samba Prazer da Serrinha. Sua Ala de Compositores é uma das mais respeitadas, tendo em sua história nomes como Silas de Oliveira, Mano Décio, Aniceto do Império, Molequinho, Dona Yvone Lara (primeira mulher a fazer parte de uma ala de compositores de escola de samba), Beto sem Braço, Aluísio Machado, Arlindo Cruz, só para citar alguns dentre tantos.

Sua história é coroada por belíssimos sambas, verdadeiros clássicos do samba enredo como Aquarela Brasileira (1964) e (2004), Exaltação a Tiradentes (1949), Os Cinco Bailes da História do Rio (1965), Heróis da Liberdade (1969), Bumbum paticumbum Prugurundum (1982), entre outros.


                                                                   Em 1946, Mano Décio da Viola e Silas de Oliveira, então integrantes da Prazer da Serrinha, haviam composto o samba Conferência de São Francisco para o carnaval, mas no momento de desfile, o presidente da escola, Alfredo Costa, resolveu que a escola desfilaria com outro samba. A confusão gerou problemas de harmonia, o que levou a Prazer da Serrinha a terminar em 11º lugar. Descontentes, Mano Décio da Viola, Silas de Oliveira, Sebastião de Oliveira (Molequinho), entre outros, em reunião na casa de Dona Eulália do Nascimento, decidiram fundar uma nova agremiação, a qual deram o nome de Império Serrano, uma homenagem ao Império da Tijuca, sua madrinha.


Samba Enredo 1964 - Aquarela Brasileira
G.R.E.S. Império Serrano (RJ)


 



Vejam esta maravilha de cenário
é um episódio relicário
que o artista num sonho genial
escolheu para este carnaval
e o asfalto como passarela
será a tela do Brasil em forma de aquarela

Passeando pelas cercanias do Amazonas
conheci vastos seringais
no Pará, a ilha de Marajó
e a velha cabana do Timbó
caminhando ainda um pouco mais
deparei com lindos coqueirais
estava no Ceará, terra de Irapuã
de Iracema e Tupã.

Fiquei radiante de alegria
quando cheguei na Bahia
Bahia de Castro Alves, do acarajé
das noites de magia do candomblé
Depois de atravessar as matas do Ipu
assisti em Pernambuco
a festa do frevo e do maracatu
Brasília tem o seu destaque
na arte, na beleza e arquitetura
feitiço de garoa pela serra
São Paulo engrandece a nossa terra
do Leste por todo o Centro-Oeste
tudo é belo e tem lindo matiz
o Rio dos sambas e batucadas
dos malandros e mulatas
de requebros febris.
Brasil, essas nossas verdes matas
cachoeiras e cascatas
de colorido sutil
e este lindo céu azul de anil
emolduram aquarela o meu Brasil

Lá rá rá rá rá
Lá rá rá rá rá
 

sábado, 6 de outubro de 2012

Feijoada Marítima

A rua do Ouvidor, quem diria, nasceu Desvio do Mar pela necessidade de contato dos colonos da praia de Nossa Senhora do Ó com a Rua Direita, hoje Primeiro de Março. 

No final deste post vc pode conhecer um pouco mais da história desta rua que já foi considerada a mais passeada e concorrida, e mais leviana, indiscreta, bisbilhoteira, esbanjadora, fútil, noveleira, poliglota e enciclopédica de todas as ruas da cidade do Rio de Janeiro.

O fato é que viemos atrás da Feijoada Marítima, servida diariamente na Toca do Baiacu. A denominação entrega seu diferencial por ser um cozido de feijões brancos com frutos do mar. O diferencial é que a casa trabalha com produtos sempre muito frescos devido à proximidade do mercado de peixes.

A porção para 1 pessoa é generosa na medida para dois pratos feitos. Se tem algo que evito é repetir o prato de feijoada pois assim fico desperto e disposto para continuar a jornada. Juro que cheguei a duvidar desta referência. Quase caí na tentação de pedir repeteco e só resisti porque havia agendado um roteiro à pé nos arredores e portanto tive que vencer a gula. 

Minha boca saliva até hoje... mexilhões, polvo, lula, peixe, camarão, siri, vongole envoltos num belo molho de feijões colorem o prato que acompanha arroz branco e farofa clarinha.

O proprietário Marco Targino sabe o valor que tem, suas mesas ficam espalhadas pela extensão da rua servindo comensais em busca de suas delícias. Não é a primeira vez que vejo passar uma belíssima costela que ainda pretendo degustar. Neste dia, feijão só no caldinho.









"O Desvio teve por primeiros moradores gente pobre, no trabalho, porém ativa; peões que exerciam misteres, operários, e um cirurgião que era barbeiro dos nobres. Mas no ano de 1590 e sem intervenção nem audiência da Câmara Municipal, o Desvio do Mar por acordo geral dos colonos subiu ao grau honorífico de rua urbana com o nome de Aleixo Manoel."
 
Seria Cesar Fraga, atual barbeiro da rua, o herdeiro legítimo de Aleixo Manoel ? A depender de sua nobre freguesia não restam dúvidas. Sua barbearia é bem conhecida pela belíssima coleção dos legítimos Panamá que ali são vendidos. Para entrar no clima compre seu chapéu, pegue um habano ou Dona Flor na Tabacaria vizinha ao Toca do Baiacu e curta seu sábado em grande estilo.

Se durante toda a tarde vc pode se deliciar com a roda de samba do vizinho Antigamente, na chegada da noitinha o Cesar promove uma seleção musical impecável que varia de Zeca Pagodinho a Lisa Stanfield, dependendo da sua inspiração. 

Programinha para repetir sempre !





Serviço:
Toca do Baiacu 
Rua do Ouvidor, 41
Tel (21) 2509-6520 / 8384-0713
R$ 35, a feijoada marítima para 1 pessoa
R$ 55, para 2 pessoas

Barbearia Clube XV
Rua do Ouvidor, 47
Tel (21) 2252-3220 / 9270-7367

Memórias por Joaquim Manuel de Macedo



A Rua do Ouvidor, a mais passeada e concorrida, e mais leviana, indiscreta, bisbilhoteira, esbanjadora, fútil, noveleira, poliglota e enciclopédica de todas as ruas da cidade do Rio de Janeiro, fala, ocupa-se de tudo; até hoje, porém, ainda não referiu a quem quer que fosse a sua própria história.

Sabem todos que a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, fundada por Mem de Sá em 1567, teve o seu assento sobre o monte de São Januário (depois chamado de Castelo); mas, perdido o receio de ataques inopinados dos Tamoios, começaram, logo, os colonos a descer do monte e a estabelecer-se na planície.

Primeiramente levantaram à beira do mar casas e choupanas com uma só linha, formando o que alguns anos mais tarde recebeu o nome de Rua da Misericórdia; em seguida foram adiantando suas rudes construções pela praia de Nossa Senhora do Ó, que a mudar de denominação se foi chamando Lugar do Ferreiro da Polé, Praça do Carmo, Terreiro do Paço, Largo do Paço, e enfim Praça D. Pedro II.

Da praia de Nossa Senhora do Ó (onde logo depois de 1567 um devoto erguera pequena capela com essa santa invocação) as casas e palhoças continuaram a levantar-se mais ou menos separadas uma das outras e ainda á beira do mar, e também em uma só linha, que muito em breve formaram a primitiva Rua Direita que é desde 1870 Rua Primeiro de Março.

Tudo isso foi obra de 1568 a 1572, e não admira, porque as primeiras casas eram de construção muito ligeira e evidentemente provisória.

Mas em ano que correu entre o de 1568 e o de 1572 alguns colonos abriram à pouca distância do começo da rua que se denominou Direita uma entrada em ângulo reto com ela, e cada qual foi improvisando grosseiro ubi para si e para sua família aos lados dessa aberta feita sobre areias e por entre mesquinha vegetação denunciadora de antigo domínio do mar.

E, curiosa, interessante, notável, notabilíssima idéia ou inspiração daqueles colonos portugueses tão bisonhos e tão sem malícia!... como aquela aberta ainda não era rua, e eles precisavam designá-la por algum nome, chamaram-na Desvio do Mar. Desvio!...

Eis o berço da bonita, vaidosa e pimpona atual Rua do Ouvidor! Fica, pois, historiado que ela nasceu de um desvio, e desvio da Rua Direita, ou do caminho direito, o que, a falar a verdade, não era de bom agouro.

O Desvio teve por primeiros moradores gente pobre, no trabalho, porém ativa; peões que exerciam misteres, operários, e um cirurgião que era barbeiro dos nobres.

Mas no ano de 1590 e sem intervenção nem audiência da Câmara Municipal, o Desvio do Mar por acordo geral dos colonos subiu ao grau honorífico de rua urbana com o nome de Aleixo Manoel.


Aleixo Manoel, colono português, era cirurgião e também barbeiro, mas barbeiro só de fidalgos; morava no monte de S. Januário perto do colégio dos padres jesuítas; como porém poucos doentes tivesse, e ainda menos fidalgos a barbear, lembrou-se um dia de procurar fortuna, explorando a guerra.

Joaquim Manuel de Macedo, jornalista, professor, romancista, poeta, teatrólogo e memorialista, nasceu em Itaboraí, RJ, em 24 de junho de 1820, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 11 de abril de 1882. É o patrono da Cadeira n. 20 da Academia Brasileira de Letras.
 

 
Fonte: http://www.biblio.com.br/defaultz.asp?link=http://www.biblio.com.br/conteudo/JoaquimManueldeMacedo/memoriasdarua.htm