A rua do Ouvidor, quem diria, nasceu Desvio do Mar pela necessidade de contato dos colonos da praia de Nossa Senhora do Ó com a Rua Direita, hoje Primeiro de Março.
No final deste post vc pode conhecer um pouco mais da história desta rua que já foi considerada a mais passeada e concorrida, e mais leviana, indiscreta, bisbilhoteira, esbanjadora, fútil, noveleira, poliglota e enciclopédica de todas as ruas da cidade do Rio de Janeiro.
O fato é que viemos atrás da Feijoada Marítima, servida diariamente na Toca do Baiacu. A denominação entrega seu diferencial por ser um cozido de feijões brancos com frutos do mar. O diferencial é que a casa trabalha com produtos sempre muito frescos devido à proximidade do mercado de peixes.
A porção para 1 pessoa é generosa na medida para dois pratos feitos. Se tem algo que evito é repetir o prato de feijoada pois assim fico desperto e disposto para continuar a jornada. Juro que cheguei a duvidar desta referência. Quase caí na tentação de pedir repeteco e só resisti porque havia agendado um roteiro à pé nos arredores e portanto tive que vencer a gula.
Minha boca saliva até hoje... mexilhões, polvo, lula, peixe, camarão, siri, vongole envoltos num belo molho de feijões colorem o prato que acompanha arroz branco e farofa clarinha.
O proprietário Marco Targino sabe o valor que tem, suas mesas ficam espalhadas pela extensão da rua servindo comensais em busca de suas delícias. Não é a primeira vez que vejo passar uma belíssima costela que ainda pretendo degustar. Neste dia, feijão só no caldinho.
"O Desvio teve por primeiros moradores gente pobre, no
trabalho, porém ativa; peões que exerciam misteres, operários, e um cirurgião
que era barbeiro dos nobres. Mas no ano de 1590 e sem intervenção nem audiência da Câmara
Municipal, o Desvio do Mar por acordo geral dos colonos subiu ao grau
honorífico de rua urbana com o nome de Aleixo Manoel."
Seria Cesar Fraga, atual barbeiro da rua, o herdeiro legítimo de Aleixo Manoel ? A depender de sua nobre freguesia não restam dúvidas. Sua barbearia é bem conhecida pela belíssima coleção dos legítimos Panamá que ali são vendidos. Para entrar no clima compre seu chapéu, pegue um habano ou Dona Flor na Tabacaria vizinha ao Toca do Baiacu e curta seu sábado em grande estilo.
Se durante toda a tarde vc pode se deliciar com a roda de samba do vizinho Antigamente, na chegada da noitinha o Cesar promove uma seleção musical impecável que varia de Zeca Pagodinho a Lisa Stanfield, dependendo da sua inspiração.
Programinha para repetir sempre !
Serviço:
Toca do Baiacu
Rua do Ouvidor, 41
Tel (21) 2509-6520 / 8384-0713
R$ 35, a feijoada marítima para 1 pessoa
R$ 55, para 2 pessoas
Barbearia Clube XV
Rua do Ouvidor, 47
Tel (21) 2252-3220 / 9270-7367
Memórias por Joaquim Manuel de Macedo
A Rua do Ouvidor, a mais passeada e concorrida, e mais
leviana, indiscreta, bisbilhoteira, esbanjadora, fútil, noveleira, poliglota e
enciclopédica de todas as ruas da cidade do Rio de Janeiro, fala, ocupa-se de
tudo; até hoje, porém, ainda não referiu a quem quer que fosse a sua própria
história.
Sabem todos que a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro,
fundada por Mem de Sá em 1567, teve o seu assento sobre o monte de São Januário
(depois chamado de Castelo); mas, perdido o receio de ataques inopinados dos
Tamoios, começaram, logo, os colonos a descer do monte e a estabelecer-se na
planície.
Primeiramente levantaram à beira do mar casas e choupanas
com uma só linha, formando o que alguns anos mais tarde recebeu o nome de Rua
da Misericórdia; em seguida foram adiantando suas rudes construções pela praia
de Nossa Senhora do Ó, que a mudar de denominação se foi chamando Lugar do
Ferreiro da Polé, Praça do Carmo, Terreiro do Paço, Largo do Paço, e enfim
Praça D. Pedro II.
Da praia de Nossa Senhora do Ó (onde logo depois de 1567 um
devoto erguera pequena capela com essa santa invocação) as casas e palhoças
continuaram a levantar-se mais ou menos separadas uma das outras e ainda á
beira do mar, e também em uma só linha, que muito em breve formaram a primitiva
Rua Direita que é desde 1870 Rua Primeiro de Março.
Tudo isso foi obra de 1568 a 1572, e não admira, porque as primeiras
casas eram de construção muito ligeira e evidentemente provisória.
Mas em ano que correu entre o de 1568 e o de 1572 alguns
colonos abriram à pouca distância do começo da rua que se denominou Direita uma
entrada em ângulo reto com ela, e cada qual foi improvisando grosseiro ubi para
si e para sua família aos lados dessa aberta feita sobre areias e por entre
mesquinha vegetação denunciadora de antigo domínio do mar.
E, curiosa, interessante, notável, notabilíssima idéia ou
inspiração daqueles colonos portugueses tão bisonhos e tão sem malícia!... como
aquela aberta ainda não era rua, e eles precisavam designá-la por algum nome,
chamaram-na Desvio do Mar. Desvio!...
Eis o berço da bonita, vaidosa e pimpona atual Rua do
Ouvidor! Fica, pois, historiado que ela nasceu de um desvio, e desvio da Rua
Direita, ou do caminho direito, o que, a falar a verdade, não era de bom
agouro.
O Desvio teve por primeiros moradores gente pobre, no
trabalho, porém ativa; peões que exerciam misteres, operários, e um cirurgião
que era barbeiro dos nobres.
Mas no ano de 1590 e sem intervenção nem audiência da Câmara
Municipal, o Desvio do Mar por acordo geral dos colonos subiu ao grau
honorífico de rua urbana com o nome de Aleixo Manoel.
Aleixo Manoel, colono português, era cirurgião e também
barbeiro, mas barbeiro só de fidalgos; morava no monte de S. Januário perto do
colégio dos padres jesuítas; como porém poucos doentes tivesse, e ainda menos
fidalgos a barbear, lembrou-se um dia de procurar fortuna, explorando a guerra.
Joaquim Manuel de Macedo, jornalista, professor, romancista,
poeta, teatrólogo e memorialista, nasceu em Itaboraí, RJ, em 24 de junho de
1820, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 11 de abril de 1882. É o patrono da
Cadeira n. 20 da Academia Brasileira de Letras.
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