Dando sequência ao post anterior sobre as versões da feijoada atravessamos a fronteira para a vizinha França, terra da alta gastronomia e que nos brinda com o prato oriundo da região do Languedoc-Roussilon, mais especificamente da cidade de Castelnaudary que realiza anualmente no mês de agosto a Fête du Cassoulet.
Conta a lenda que o prato surgiu durante a Guerra dos Cem Anos travada entre França e Inglaterra entre os séculos 14 e 15 quando o cozido era preparado com os suprimentos disponiveis para fortalecer as tropas francesas durante o combate.
O prato é composto de feijão branco com linguiça e carnes como pato, ganso, cordeiro, perdiz ou porco, a depender da receita. Aqui nos trópicos é comum adicionar os frutos do mar e foi esta a receita que fomos provar no Giuseppe Grill Leblon.
O restaurante foi premiado em 2014 pela melhor carta de vinhos da cidade pelo O Globo e melhor carne pela revista Veja Rio como indicam os prêmios logo na entrada.
O ambiente rústico dos tijolos aparentes recebe uma importante coleção de quadros e combina com o piso de madeira de demolição. O balcão de peixes e frutos do mar trazidos diariamente reforçam a especialidade da casa em grelhados. Outra especialidade da casa é o sorriso impresso nos rostos da equipe como os maitres Didi e Maurício e o chef Fernando Ribeiro.
Um enorme diferencial da carta de vinhos premiada é o grande número de rótulos vendidos por taça, sendo que, a casa cobra pela taça a exata proporção de 1/4 do valor da garrafa inteira. Além de simpático é bem honesto. Na dúvida do que escolher é bom consultar a sommelière Janaína uma sugestão para acompanhar o prato.
Foi assim que meu cassoulet (pronuncia-se caçulé) foi acompanhado por uma taça de Mariana, um branco português do Alentejo com notas minerais e que foi assim nomeado em homenagem à freira que manteve um amor secreto por um oficial francês, que lutou em solo português durante a Guerra da Restauração entre Portugal e Espanha no século 17.
Dos terraços da Adega do Rocim vê-se ao fundo a Torre do Castelo de Beja, lembrando Mariana Alcoforado, a freira enclausurada, escrevendo ao seu amado, enquanto olhava como dádivas de amor, os abençoados vinhedos que dali podia contemplar.
Na primavera de 1666 a guerra com os espanhóis chegava ao fim e Chamilly iria partir para sempre.
Serviço:
Giuseppe Grill Leblon
Rua Bartolomeu Mitre, 370 - Leblon
http://www.bestfork.com.br/giuseppegrill/leblon/
Tel 21 2249-3055 (aceita reservas)
R$ 64, o Cassoulet de frutos do mar
R$ 32, a taça de vinho Mariana
Mariana Alcoforado foi uma das religiosas da Ordem de Santa Clara, do Convento da Conceição de Beja, local onde actualmente funciona o Museu Regional da cidade. Natural de Beja, nasceu a 22 de Abril de 1640, entrou na clausura com 11 anos, vindo a professar aos 16. Porteira, Escrivã e Vigária, foram alguns dos cargos que exerceu durante a sua longa vida conventual. Faleceu em 28 de Julho de 1723.
As cartas de amor são a sua paixão sublime não correspondida, que perdura no tempo e tem despertado o interesse de todo o mundo. Desde a edição princeps de Claude Barbin, datada de 4 de Janeiro de 1669, com o título de “Lettres Portugaises Traduites en François”, até hoje, sucederam-se centenas de edições em diferentes idiomas, poemas, peças de teatro, filmes, obras de interpretação plástica e musical.
Os amores com o Marquês de Chamilly, a quem vira pela primeira vez do terraço do convento, de onde assistia às manobras do exército, deve ter ocorrido entre 1667 e 1668. Sóror Mariana pertencia à poderosa família dos Alcoforados, e o escândalo provavelmente se alastrou. Temeroso das consequências, Chamilly saiu de Portugal, pretextando a enfermidade de um irmão. Prometera mandar buscá-la. Na sua espera, em vão, escreveu as referidas cartas, que contam uma história sempre igual: esperança no início, seguida de incerteza e, por fim, a convicção do abandono. Esses relatos emocionados fizeram vibrar a nobreza da França, habituada ao convencionalismo. Além disso, levaram, para a frívola sociedade, o gosto acre do pecado e da dor, pois, ao virem a lume, divulgaram a informação de que as compusera uma freira.
O Museu conserva ainda a grande janela gradeada, mais conhecida como a Janela de Mértola, das Portas de Mértola ou de Mariana, verdadeiro ex-libris do convento, do museu e da cidade, através da qual a religiosa viu tantas vezes passar aquele que a encantava e que num dia especial a destacou com o seu olhar e lhe fez sentir os primeiros efeitos da sua infeliz paixão.
Fonte: http://www.museuregionaldebeja.pt/?page_id=28
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